segunda-feira, 27 de setembro de 2010

“Debate inglês” é bom para Plínio e pior para Dilma por Jose Roberto de Toledo

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Nas palavras da experiente socióloga Fátima Pacheco Jordão, “parecia um debate inglês”. Não houve provocação, piada, baixaria nem puxada de tapete. Só discussão de “alto nível”. Comparado aos debates que a própria Band rememorou na abertura do programa, foi de dar sono. Começou com quase 6 pontos no Ibope, o que é muito para quem concorreu com uma semifinal de Taça Libertadores, e terminou com menos de 2 pontos.

Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) saiu com mais do que entrou. Já pode colocar no currículo que foi “trending topic” mundial do Twitter: seu nome foi uma das expressões mais citadas por usuários da rede social no mundo durante o período do debate.
Na forma, foi quem melhor se saiu, dirigindo-se diretamente ao telespectador com intimidade. Falou com segurança e surpreendeu pelo tom direto e por partir para o confronto. No conteúdo, é para quem concorda com as ideias do PSOL. Talvez comece a beliscar um pontinho ou outro na próxima rodada de pesquisas. A fórmula, todavia, pode cansar rápido.

Marina Silva (PV) perdeu uma oportunidade para ser notada. Plínio ocupou o lugar que poderia ter sido dela, se fosse uma franco-atiradora. Não é. Comportada, demorou para conseguir mostrar suas diferenças em relação a Dilma e Serra. Só embalou quando começou a falar de meio ambiente, mas o debate já estava acabando.
Foi segura, olhou direto para a câmera. Mas precisará ser mais agressiva, ou pelo menos incisiva, para ganhar espaço numa disputa tão polarizada. Isso parece contrariar sua natureza conciliadora. O poema que declamou no final ficou fora de contexto. Não emocionou.

José Serra (PSDB) mostrou que é mais experiente que Dilma. Conseguiu criticar o governo sem falar mal de Lula. Surpreendentemente, não abjurou o governo Fernando Henrique Cardoso, ao contrário. Usou uma linguagem mais direta e popular do que a principal adversária. Conseguiu dominar boa parte do temário do debate, pondo a saúde, seu ponto forte, em evidência (o que lhe valeu a pecha de “hipocondríaco”, dada por Plínio).
Mas Serra falou duas bobagens que poderão ser exploradas pelos adversários. Ao enumerar os problemas de portos e aeroportos, arrematou: “Eu não sei como se vai resolver isso”. Não é a melhor frase para um candidato.
Depois, ao falar de reforma agrária, qualificou propriedades de 80 hectares como “chácara de fim-de-semana”. São 800 mil metros quadrados, algo como 80 quarteirões, praticamente um bairro.
No final, Serra foi buscar uma memória do pai para emocionar-se. Embargou a voz e lacrimejou. A emoção pareceu genuína, mas a técnica para obtê-la pareceu estudada.

Dilma Rousseff (PT) cometeu todos os erros que os rivais diziam que ela cometeria. Foi prolixa, usou um palavreado difícil e vazio: “política estruturante”, “flexibilizar”, “bioma”, “oligopolizados”. Abusou das siglas, do jargão e de cifras. Não concluiu a maior parte dos raciocínios que começou. Olhou para o oponente em vez de olhar para o telespectador. Quando o fez, olhou para a câmera errada. Estava ofegante, respirando fora do ritmo das frases. Estourou o tempo em quase todas as respostas.
Mas o pior erro de Dilma foi outro. Ela demorou uma hora e meia para dizer a palavra mais importante do seu discurso: Lula. Antes, sempre disse “nosso governo”, sem explicar que era o governo dela e de Lula. Quando percebeu o equívoco, já estava no final do debate. E, mesmo quando tentou, não conseguiu usar a figura do presidente para passar emoção. Num olhar de Poliana, Dilma ao menos sabe, agora, tudo o que precisa corrigir para o próximo debate.

RESUMO – O debate da Band muda o rumo da campanha? Não. Ao menos por ora, Dilma segue sendo favorita. Os adversários podem comemorar porque os pontos fracos da candidata do governo ficaram evidenciados, e serão explorados. Para quem está em baixa nas pesquisas e com dificuldades para obter financiamento de campanha, é um alento. Mas ainda é insuficiente para virar o jogo. Aumenta, porém, a importância dos próximos debates.

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